PMs dizem
que honestidade não serve de nada
e que assim
como os políticos, os policiais também devem ser corruptos
“A
honestidade não serve para nada”. Este era o lema dos policiais militares
investigados na Operação Novos Rumos, deflagrada esta semana pelo Ministério
Público e que culminou na prisão de 12 PMs do 9º Batalhão, sediado no bairro de
Cidade da Esperança, zona Oeste de Natal.
A partir de
interceptações de conversas telefônicas entre os policiais que se deslocavam na
viatura 924 e traficantes da região, ficou evidenciado o recebimento de
vantagem indevida por parte dos PMs para permitir a continuidade de praticas
criminosas como trafico de drogas a proteção de comerciantes proprietários de
casas de jogos de azar.
O
monitoramento das conversas expuseram ainda detalhes da conduta criminosa dos
policiais que recebiam desde queijo e objetos, como aparelhos celulares, até
mesmo altas quantias semanais em dinheiro. O objetivo era garantir a “vista
grossa” para os delitos cometidos pelos traficantes com os quais mantinham
acordo.
Um dos
diálogos interceptados mostra como agiam os policiais. A gravação feita na
viatura mostra que durante uma abordagem a um suspeito, o mesmo relembra a um
dos policiais de uma arma que o próprio policial havia tomado durante uma ronda
em uma festa.
Na mesma
ocasião, o suspeito comenta que os PMs teriam seguido até a casa dele para
fazer uma revista, onde foram encontrados diversos celulares da marca iphone,
além de uma quantia no valor de R$ 2 mil. A gravação mostra que os policiais
negociaram liberar o suspeito em troca dos celulares e do dinheiro, que foi
devido entre os ocupantes da viatura.
Em outra
situação registrada, os policiais realizam uma abordagem em um veículo suspeito
e encontram uma pistola com um dos ocupantes do veículo. Os PMs tentam negociar
a devolução da pistola em troca de uma quantia de R$ 2 mil. Após a negociação,
os policiais liberam o cidadão e vão embora com a pistola, alguns queijos e
mais R$ 1.200. O suspeito em questão que era um vendedor de queijo que teve
todo o seu apurado tomado pelos policiais.
Em dado
momento os PMs deixam claro o lema que carregavam no esquema criminoso. Durante
uma conversa enquanto circulavam na viatura pela região, um dos PMs,
identificado apenas como Pereira diz que outro policial mais antigo teria
soltado uma indireta para ele alertando que o maior bem que se tem é honestidade.
O policial
identificado como Pereira continua; “Policiais falam que honestidade não serve
de nada nesse mundo corrupto. Se os políticos não são honestos, por que os
policiais deveriam ser.”, Questiona ele aos comparsas.
O PM segue
com seu discurso e conclui que o comentário feito pelo policial mais antigo
deve ser inveja, visto que é dono de uma Corsa modelo antigo, enquanto ele é
proprietário de uma caminhonete L200 que com o pagamento do seguro deve ter
custado uns R$ 100 mil.
Acordos
Outra
conversa registrada mostra que no dia 23 de abril, de 2015, nas imediações da
Comunidade do Mosquito, no bairro das Quintas, os policiais militares Ivan
Ferreira da Silva Tavares, André Luiz da Silva Pereira e José Chelr Firmino da Silva
aceitaram promessa de vantagem, com data a ser paga.
O acordo era
não reprimir o fornecimento de drogas na Comunidade do Mosquito. Em um dos
diálogos, alguns dos policiais chegam a citar uma quantia de R$ 28 mil a ser
paga por um dos traficantes.
Na conversa,
dois dos policiais comentam a quantidade de dinheiro que podiam levar na
negociação. Um deles diz: “É Zé ali era oitão! É dinheiro com força! Ali me
tirava do prego também fuderoso”. Outro interpela e diz: “Tá doido homem, era
10 mil para cada um”.
Em outra
passagem um dos policiais oferece droga a um traficante para que ele revenda e
divida o lucro entre eles. Um dos policiais diz: “A gente queria pegar um
negócio logo bom para passar três meses sem passar aqui. Se a agente pega 100
gramas e colocasse na tua mão você desenrola?”, pergunta o policial ao
traficante que responde: “Pode ser até um quilo! Homem pegue logo desenrola!”,
diz.
Intimidade
As gravações
mostraram ainda certo nível de intimidade entre os policiais e os traficantes.
Em uma das ligações interceptadas, um dos policiais identificado como Milni e
um traficante conversam sobre o pagamento de uma das comissões, o policial
chega a perguntar sobre o estado de saúde do traficante.
O PM diz:
“Tá com diabetes é? Tu? Tá não! Tá magro”. Em outro momento da conversa o
policial questiona o local em que o traficante estaria morando. Ele diz: “Tais
morando onde?”. Enquanto o traficante responde: Lá no outro lado do Rio”. O
policial ainda pergunta: “Zona Norte é? Pensei que era em outro canto”.
Operação
A operação
deflagrada pelo Ministério no início da manhã da terça-feira (29) teve como
objetivo investigar e combater crimes de corrupção na Corporação da Polícia
Militar. A ação teve início em 2014 e tem relação com a Operação Citronela
deflagrada na última sexta-feira (25).
(*) FONTE: Portal no AR
Nenhum comentário:
Postar um comentário