quinta-feira, 19 de novembro de 2015

CRISPINIANO RETORNA A FJA EM CENÁRIO MAIS AMENO


Por: Yuno Silva

A Fundação José Augusto tem 62 setores, entre equipamentos culturais e departamentos da administração, um quadro de servidores maior que o do Ministério da Cultura e acumula tantos problemas que “um raio-x não resolve, tem que ser uma ressonância magnética”, disse o diretor geral Crispiniano Neto, que retorna  ao cargo após  passagem entre 2007 e 2010. O VIVER conversou com o gestor sobre a missão de conduzir a autarquia responsável pela condução das políticas culturais no RN: “Conheço a casa e já tenho um conhecimento relativo da realidade”. Confira os melhores trechos da entrevista:


BIBLIOTECA CÂMARA CASCUDO
A situação é deprimente. O projeto de reforma da Biblioteca foi elaborado ainda na minha primeira gestão. Acontece que foram feitas uma série de modificações, aceitas aqui e não aprovadas em Brasília. Nisso o trabalho parou. Ao parar os preços se desatualizaram e a empresa que começou a obra quer fazer um destrato. Farei um último apelo para que não seja feito o destrato, se tiver que ser feito que seja rápido para abrirmos nova licitação.

CORAIS
Conversei com o pessoal da Camerata de Vozes pra dizer que não vai mais haver queda de braço. A questão é o que fazer com os 14 músicos-cantores que ficaram no Canto do Povo. Do ponto de vista trabalhista todos estão recebendo. O governador Robinson Faria está oficializando a Camerata, então teremos dois corais. Agora é saber dos artistas (do Canto do Povo) o que eles sugerem, o que podem produzir.

GRÁFICA MANIBU
A Manibu está com tecnologia superada. Falta uma política editorial. Lançar 100 ou 1000 livros não significa que há uma política definida. temos que transformar a Manibu em uma gráfica de verdade e fazer dali uma livraria. Provavelmente vamos ocupar o prédio onde funcionou o antigo Grupo Escolar Augusto, na Ribeira, quero levar para lá o Instituto Waldemar de Almeida e a escola de arte CENA; assim, além de ampliar as vagas, teremos mais espaço para a gráfica.

EDITAIS
Se conseguirmos ampliar o Fundo Estadual de Cultura, a política de editais está garantida. Agora com o cuidado de lançar só quando tiver o empenho garantindo, para não passar o sufoco que passei aqui por anunciar o prêmio e não consegui pagar. Vou checar o que está faltando pagar ainda (os editais William Cobbett de Cinema e Moacy Cirne de Quadrinhos, de 2009, estão pendentes). Dívida do Estado não morre.

PONTOS DE CULTURA
Me reuni com o representante da Rede de Pontos de Cultura do RN para falar sobre a Teia Regional, inicialmente marcada para dezembro. E esta semana vou me reunir com a associação de rádios comunitárias para tentar costurar um acordo entre as quase 40 emissoras espalhadas pelo RN, as Casas de Cultura e os Pontos. Unir essas forças pode ser o tranco que faltava para o carro voltar a andar.

CASA DE CULTURA
Das 29 Casas de Cultura apenas a de Macau está fechada, mas muitas funcionam de forma precária. Para termos uma ideia da situação, quando as Casas foram criadas foi investido R$ 1 milhão. Este ano, até agora, foram destinados R$ 28 mil para promover festa na época do São João - ou R$ 1 mil por casa. Além da falta de recursos, ainda temos que lidar com questões políticas locais. Como solução, vamos incentivar a criação de associações de amigos das casas para gerar movimento e sustentabilidade.

DIÁLOGO COM O GOVERNADOR
Antes de assumir tive uma reunião com o governador Robinson Faria. Eu não queria voltar pra cá, minha vida está arrumada e aqui na FJA vou pagar para trabalhar. Em Mossoró estava morando em casa, trabalhava (na Editora Imeph, do CE) pela internet enquanto cuidava das galinhas, das ovelhas e ouvia os passarinhos cantar.

DIFICULDADES
Lhe digo sinceramente: não estou vendo nada mais difícil do que encontrei da outra vez. Diria que hoje os problemas são 30%  do que eram naquele tempo.

TAM E TCP
Foi uma providência antipática, mas necessária. Melhor fechar que correr riscos. O TAM tem um projeto de segurança que será atendido com R$ 2,3 milhões, previstos no RN Sustentável (programa do Governo que utiliza verba do Banco Mundial). Por outro lado temos o projeto via PAC Cidades Históricas, orçado em R$ 8 milhões. Minha preocupação é fazer só o projeto de segurança e acabar ficando por isso mesmo. Não seria melhor esperar mais um pouco (pelo PAC CH) e fazer logo o projeto de R$ 8 milhões? Ou ainda convencer o governador a bancar tudo, e quando vier o dinheiro do PAC CH utilizar os recursos em outros equipamentos.
Já o TCP tem pequenos reparos para fazer, principalmente na parte elétrica que está sendo consertada pelo pessoal do TAM; e boa parte da demanda são exigências a partir de uma determinada porta, no subsolo, depois dos camarins, um espaço que nunca foi usado. A proposta é isolar essa área e atender as exigências mais urgentes.

PINACOTECA
Acho uma ideia até simpática querer trazer a Governadoria de volta para o Palácio Potengi, mas não tem como mexer. A não ser que tenhamos uma outra Pinacoteca, maior e de nível parisiense. Aí negociamos a saída.

AGENDA
Não adiantava trazer planos para a FJA, na verdade tenho planos não concretizados desde minha outra gestão. Um exemplo é a lei Câmara Cascudo: de que adianta aumentar o valor da renúncia fiscal de R$ 4 para R$ 6 milhões se não se consegue captar. É preciso fazer ajustes na lei.

LEI DE INCENTIVO
Como 20% é investimento direto das empresas e a renúncia fiscal não é captada na totalidade, deixaram de ser alavancado R$ 1,7 milhões da iniciativa privada. Ou seja, está se chorando miséria e se devolvendo dinheiro. Nossa proposta é convencer o governador Robinson Faria, e modificar a lei na Assembleia Legislativa, para permitir que um terço da renúncia passe a compor o Fundo Estadual de Cultura. Assim poderemos distribuir esses recursos via editais, sem necessidade do artista/produtor correr atrás de patrocínio. Entendo que se o Governo pode bancar 80%, também pode bancar 100%.

MUSEU CAFÉ FILHO
A licitação da obra (orçada em R$ 150 mil) está no RN Sustentável, mas uma das licitações foi deserta e outra fracassada. As regras são internacionais, via Banco Mundial, e as empresas que concorreram não cumpriram todos os requisitos. Não tem jeitinho, quem quiser ganhar dinheiro vai ter que se adaptar.

ORQUESTRA SINFÔNICA
Assim como outros setores, não temos servidores nem permissão para realizar um novo concurso público para completar a Orquestra. Não basta boa vontade, tem que ser feito um levantamento e solicitar. Não posso ser omisso, mas há o limite da Lei da Responsabilidade Fiscal que precisa ser respeitado.

SERVIDORES

Quando cheguei na FJA em 2007 havia muito desestímulo e frouxidão. Conseguimos implantar o Plano de Cargos e Salários, e temos que trabalhar o convencimento. Hoje tenho intimidade de chegar para os servidores e dizer o que Roosevelt disse aos norte-americanos em 1929: Não pergunte o que a Fundação pode fazer por você, me diga o que você pode fazer pela Fundação.

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