Quase vinte
dias após o maior acidente ecológico da história do país, autoridades,
empresários responsáveis pela tragédia em Mariana que se estende até o litoral
e a Justiça ainda não conseguiram apresentar um rosto como o responsável por
crime desta proporção. Trata-se de um delito envolvendo multinacionais que
faturam bilhões em todo o mundo, e principalmente no Brasil, na exploração de
recursos naturais onde, ao que parece, assumem apenas a responsabilidade quanto
ao lucro. A nós, cidadãos, cabe o ônus.
Houve falhas
na execução do projeto de construção da barragem, conforme já foi divulgado a
exaustão. E houve também na omissão diante da constatação desta falha. Quem são
os responsáveis pela negligência?
O trecho
destacado pelas redes sociais atribuído a um pescador (leia abaixo) anônimo é
dos mais profundos a cintilar em toda esta história cor de lama. Diz ele, em
outras palavras que, enquanto a lei é severa com o que pesca o bagrinho na
época do defeso, mesmo que para o próprio sustento, ela é omissa e indiferente
quando o criminoso do meio ambiente usa terno e gravata e movimenta uma riqueza
incalculável: "e quem mata tudo no Rio?" Não será punido? Questiona.
A pergunta,
com certeza, não merecerá resposta oficial. O governo brasileiro mantém em
vigor uma lei que estabelece um teto de R$ 50 milhões para crimes ambientais.
Qual a razão de instituir limite de punição pecuniária a empresas que faturam
tanto? Por que elas exigiriam tal restrição se adotassem, na prática, medidas
que garantissem a segurança ambiental da área a ser explorada? Parece crime
premeditado. Mas deve ser só semelhança.
Mas que
fique claro: a multa aplicada à empresa não anula a reparação por danos morais
e materiais. Embora se queira confundir, é bom que o internauta saiba que a
multa aplicada é sanção oficial contra crime desta natureza. Dela está
desvinculado qualquer pleito judicial de reparação. E isso cidadãos poderão
fazer individual ou coletivamente. O mesmo quanto a cidades e estados.
Está na hora
do governo brasileiro, seja em que esfera for, deixar de ser a Geni do capital
especulativo - ou falsamente produtivo quando se revela danoso . A Vale,
adquirida a preço módico no processo de privatização de FHC, é a mola mestra de
toda a tragédia ambiental que começou em Mariana. Afinal, é ela a contratante
da Samarco - esta, a terceirizada, é a única cujo nome é repercutido num setor
condescendente da mídia.
A pergunta
do pescador, que você vê abaixo, não vai ficar sem resposta. Se os responsáveis
por tudo isso (por ação ou omissão) o ignoram, cabe a nós, jornalistas, dar voz
a astúcia de um homem simples e verdadeiramente responsável pelos seus atos. A
lei não pune o empresário porque o peixe que ele produz chega à mesa de quem,
agora, deveria enfrentá-lo.
Como diria
Caetano Veloso: é a força da grana que ergue e destrói coisas belas.
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