quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A MENSAGEM DO PESCADOR É A SÍNTESE DA NOSSA LEI AMBIENTAL


Quase vinte dias após o maior acidente ecológico da história do país, autoridades, empresários responsáveis pela tragédia em Mariana que se estende até o litoral e a Justiça ainda não conseguiram apresentar um rosto como o responsável por crime desta proporção. Trata-se de um delito envolvendo multinacionais que faturam bilhões em todo o mundo, e principalmente no Brasil, na exploração de recursos naturais onde, ao que parece, assumem apenas a responsabilidade quanto ao lucro. A nós, cidadãos, cabe o ônus.

Houve falhas na execução do projeto de construção da barragem, conforme já foi divulgado a exaustão. E houve também na omissão diante da constatação desta falha. Quem são os responsáveis pela negligência?

 
O trecho destacado pelas redes sociais atribuído a um pescador (leia abaixo) anônimo é dos mais profundos a cintilar em toda esta história cor de lama. Diz ele, em outras palavras que, enquanto a lei é severa com o que pesca o bagrinho na época do defeso, mesmo que para o próprio sustento, ela é omissa e indiferente quando o criminoso do meio ambiente usa terno e gravata e movimenta uma riqueza incalculável: "e quem mata tudo no Rio?" Não será punido? Questiona.

A pergunta, com certeza, não merecerá resposta oficial. O governo brasileiro mantém em vigor uma lei que estabelece um teto de R$ 50 milhões para crimes ambientais. Qual a razão de instituir limite de punição pecuniária a empresas que faturam tanto? Por que elas exigiriam tal restrição se adotassem, na prática, medidas que garantissem a segurança ambiental da área a ser explorada? Parece crime premeditado. Mas deve ser só semelhança.

Mas que fique claro: a multa aplicada à empresa não anula a reparação por danos morais e materiais. Embora se queira confundir, é bom que o internauta saiba que a multa aplicada é sanção oficial contra crime desta natureza. Dela está desvinculado qualquer pleito judicial de reparação. E isso cidadãos poderão fazer individual ou coletivamente. O mesmo quanto a cidades e estados.

Está na hora do governo brasileiro, seja em que esfera for, deixar de ser a Geni do capital especulativo - ou falsamente produtivo quando se revela danoso . A Vale, adquirida a preço módico no processo de privatização de FHC, é a mola mestra de toda a tragédia ambiental que começou em Mariana. Afinal, é ela a contratante da Samarco - esta, a terceirizada, é a única cujo nome é repercutido num setor condescendente da mídia.

A pergunta do pescador, que você vê abaixo, não vai ficar sem resposta. Se os responsáveis por tudo isso (por ação ou omissão) o ignoram, cabe a nós, jornalistas, dar voz a astúcia de um homem simples e verdadeiramente responsável pelos seus atos. A lei não pune o empresário porque o peixe que ele produz chega à mesa de quem, agora, deveria enfrentá-lo.


Como diria Caetano Veloso: é a força da grana que ergue e destrói coisas belas.

(***) FONTE: Conexão Jornalismo

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