Com o fechamento da Biblioteca Câmara
Cascudo para reformas,
o acervo ficou comprometido por não ter
sido colocado em local adequado à época
Por: Yuno Silva
Em: Tribuna do Norte
O ano de
2016 nem bem começou, mas as novidades literárias já despontam no horizonte – e
nos bastidores. Para os lados da Fundação José Augusto, que passou 2015
praticamente em branco se não fosse o retorno do jornal “O Galo”, as notícias
são de que a política de editais será retomada e a coleção Cultura Potiguar
continuada. Também estão na lista de planos da Coordenação do Livro, Leitura e Biblioteca
da FJA a festa de 50 anos da gráfica e editora Manibu, completados ano passado
sem alarde, e o lançamento da revista “Carcará” voltada para o audiovisual.
Ainda no campo editorial, projetos como “Literatura Potiguar nas Paradas” devem
sair do papel.
“Em 2015 não
conseguimos lançar nada. Assumi o setor no mês de abril passado e encontrei a
gráfica Manibu desabastecida, o material que tinha mal dava para atender as
demandas internas”, informou o jornalista Ailton Medeiros, responsável pela
Coordenadoria de Livro, Leitura e Bibliotecas da Fundação. Ele disse que ainda
há “cinco ou seis” títulos pendentes (da gestão anterior) para concluir a
coleção Cultura Potiguar e que “em breve os editais serão retomados” para somar
novas obras à coleção. “O nome vai permanecer, porém vamos ampliar o leque do
catálogo com publicações acadêmicas, pesquisas e ensaios”.
Sobre o
material básico de consumo da Manibu, papel e tintas, Medeiros garantiu que
Crispiniano Neto, atual diretor geral da FJA, está empenhado em resolver o
quanto antes. “A gestão anterior rodou quase cem livros com o estoque que
Crispiniano havia deixado em sua primeira passagem pela instituição”, lembrou
Ailton. Os 50 anos da gráfica e editora serão lembrados por lançamentos e
reedições de livros, entrega de prêmios e homenagens.
A revista
“Carcará”, por sua vez, permanece no plano da ideias: “Resgatamos O Galo,
depois de quase 12 anos sem circular, e conseguimos lançar duas edições do
jornal em outubro e dezembro de 2015 com apoio do Departamento Estadual de
Imprensa/A República. Ainda em 2016 pretendemos publicar dois números da
revista Preá e estamos vendo como viabilizar a revista ‘Carcará’”, explicou o
jornalista.
Ailton
Medeiros contou que a “Carcará” surgiu da demanda. “O setor audiovisual deu um
salto no RN nos últimos anos, e precisamos dar visibilidade a esse movimento
cada vez mais forte e organizado que envolve não só a realização de filmes como
também festivais e oficinas de qualificação em cidades do interior do Estado. A
data de lançamento não está consumada, mas trabalhamos para que seja até
abril”.
O
coordenador ressaltou que a “Carcará”, nome escolhido pela simbologia sertaneja
com forte inspiração na música de João do Vale e José Cândido, “contextualiza
com O Galo e a Preá” que, respectivamente, focam a literatura e as
manifestações culturais.
Projetos
A
Coordenação do Livro, Leitura e Biblioteca da FJA também está à frente do
projeto “Literatura Potiguar nas Paradas”, ação que deve se repetir seis vezes
em 2016. A proposta é levar escritores e poetas para conversar sobre literatura
com as pessoas em pontos de ônibus de Natal – o interior será alcançado via Casas
de Cultura. A iniciativa ainda prevê declamações, performances e intervenções,
e o ponta pé inicial programado para o Dia Nacional da Poesia (14 de março) –
até lá, segundo Ailton Medeiros, será publicado o edital Primeiras Leituras,
voltado para contemplar autores de obras destinadas ao público infanto-juvenil.
“A
literatura também está inserida no projeto ‘Rondas Culturais’ (nome
provisório), que consiste na ideia de levar arte, cultura, debates e oficinas
para bairros da periferia de Natal”.
Biblioteca Câmara Cascudo
Um capítulo
importante do segmento literário potiguar deve voltar a ser escrito agora no
início de 2016: o processo que autoriza a retomada das obras de reforma da
Biblioteca Pública Câmara Cascudo (orçada em R$ 1,5 milhão) voltou a andar no
Ministério da Cultura após um tropeço na burocracia que durou 14 longos meses.
O trabalho
foi suspenso em outubro de 2014 devido a necessidade de ajustes no projeto
executivo: detalhes foram alterados e/ou acrescidos, e cada mudança precisa ser
analisada, avaliada e autorizada pela Diretoria de Programas Especiais de
Infraestrutura Cultural (DINC).
“Em mais de
um ano recebemos a primeira diligência formal do MinC, via sistema de
convênios, agora no dia 30 de dezembro. Solicitaram orçamento atualizado para
as alterações propostas. O documento já foi encaminhado para a Secretaria
Estadual de Infraestrutura (SIN), e assim que voltarmos do recesso próximo dia
11 de janeiro daremos prioridade ao assunto para responder ao MinC o mais breve
possível”, disse Sanclair Solon, coordenador de Planejamento e Projetos da FJA.
Além de
reestruturar a parte física, a parceria do Ministério da Cultura com o Governo
do RN inclui atualização do acervo, compra de equipamentos de informática e
novos móveis. O projeto de acessibilidade e climatização da Biblioteca Câmara
Cascudo estão inseridos em outro edital, que saiu pelo RN Sustentável junto com
serviços previstos para outros equipamentos culturais como o Museu Café Filho.
Sanclair
aproveitou a ocasião para informar que o convênio entre Governo do Estado e
Pontos de Cultura foi reaprazados. Os Pontos deveriam ter recebido a terceira
parcela do convênio, no valor de R$ 60 mil, em 2013.
“Outras duas
boas notícias são que a Secretaria de Políticas Culturais do MinC fará um
aporte de R$ 700 mil ao RN Criativo, o que garante mais 18 meses de atividades
da incubadora; e que a restauração do Casarão dos Guarapes, em Macaíba, orçada
em R$ 1,1 milhão, foi aprovada pelo Ministério do Turismo (deste valor, R$ 124
mil são contrapartida do RN)”, acrescentou o coordenador de Planejamentos e
Projetos da Fundação.
O Casarão
dos Guarapes, construído no século 19, funcionou como entreposto comercial
quando Macaíba tinha papel de destaque no escoamento da produção
norte-rio-grandense. A intenção é que o lugar sirva como centro cultural,
memorial e museu.
Comentário
O poeta
Carlos Gurgel, que estreou no final de 2015 o projeto poético Espelho da
Palavra, acredita que “existe uma compreensão maior” do que representa o ofício
de escritor: “Apesar da distribuição continuar precária, a cada dia percebo
maior interesse dos leitores pelo autor potiguar. Acho que ainda se precisa
fazer muito, e reconhecer esse processo é básico. Valores novos apareceram e os
já conhecidos continuam produzindo. Penso que a criação de um coletivo
possibilitaria a compreensão maior do que o exercício sonha”.