quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

FJA: PLANOS LITERÁRIOS

Com o fechamento da Biblioteca Câmara Cascudo para reformas,
o acervo ficou comprometido por não ter sido colocado em local adequado à época

Por: Yuno Silva
Em: Tribuna do Norte

O ano de 2016 nem bem começou, mas as novidades literárias já despontam no horizonte – e nos bastidores. Para os lados da Fundação José Augusto, que passou 2015 praticamente em branco se não fosse o retorno do jornal “O Galo”, as notícias são de que a política de editais será retomada e a coleção Cultura Potiguar continuada. Também estão na lista de planos da Coordenação do Livro, Leitura e Biblioteca da FJA a festa de 50 anos da gráfica e editora Manibu, completados ano passado sem alarde, e o lançamento da revista “Carcará” voltada para o audiovisual. Ainda no campo editorial, projetos como “Literatura Potiguar nas Paradas” devem sair do papel.

“Em 2015 não conseguimos lançar nada. Assumi o setor no mês de abril passado e encontrei a gráfica Manibu desabastecida, o material que tinha mal dava para atender as demandas internas”, informou o jornalista Ailton Medeiros, responsável pela Coordenadoria de Livro, Leitura e Bibliotecas da Fundação. Ele disse que ainda há “cinco ou seis” títulos pendentes (da gestão anterior) para concluir a coleção Cultura Potiguar e que “em breve os editais serão retomados” para somar novas obras à coleção. “O nome vai permanecer, porém vamos ampliar o leque do catálogo com publicações acadêmicas, pesquisas e ensaios”.

Sobre o material básico de consumo da Manibu, papel e tintas, Medeiros garantiu que Crispiniano Neto, atual diretor geral da FJA, está empenhado em resolver o quanto antes. “A gestão anterior rodou quase cem livros com o estoque que Crispiniano havia deixado em sua primeira passagem pela instituição”, lembrou Ailton. Os 50 anos da gráfica e editora serão lembrados por lançamentos e reedições de livros, entrega de prêmios e homenagens.

A revista “Carcará”, por sua vez, permanece no plano da ideias: “Resgatamos O Galo, depois de quase 12 anos sem circular, e conseguimos lançar duas edições do jornal em outubro e dezembro de 2015 com apoio do Departamento Estadual de Imprensa/A República. Ainda em 2016 pretendemos publicar dois números da revista Preá e estamos vendo como viabilizar a revista ‘Carcará’”, explicou o jornalista.

Ailton Medeiros contou que a “Carcará” surgiu da demanda. “O setor audiovisual deu um salto no RN nos últimos anos, e precisamos dar visibilidade a esse movimento cada vez mais forte e organizado que envolve não só a realização de filmes como também festivais e oficinas de qualificação em cidades do interior do Estado. A data de lançamento não está consumada, mas trabalhamos para que seja até abril”.

O coordenador ressaltou que a “Carcará”, nome escolhido pela simbologia sertaneja com forte inspiração na música de João do Vale e José Cândido, “contextualiza com O Galo e a Preá” que, respectivamente, focam a literatura e as manifestações culturais.

Projetos
A Coordenação do Livro, Leitura e Biblioteca da FJA também está à frente do projeto “Literatura Potiguar nas Paradas”, ação que deve se repetir seis vezes em 2016. A proposta é levar escritores e poetas para conversar sobre literatura com as pessoas em pontos de ônibus de Natal – o interior será alcançado via Casas de Cultura. A iniciativa ainda prevê declamações, performances e intervenções, e o ponta pé inicial programado para o Dia Nacional da Poesia (14 de março) – até lá, segundo Ailton Medeiros, será publicado o edital Primeiras Leituras, voltado para contemplar autores de obras destinadas ao público infanto-juvenil.

“A literatura também está inserida no projeto ‘Rondas Culturais’ (nome provisório), que consiste na ideia de levar arte, cultura, debates e oficinas para bairros da periferia de Natal”.

Biblioteca Câmara Cascudo

Um capítulo importante do segmento literário potiguar deve voltar a ser escrito agora no início de 2016: o processo que autoriza a retomada das obras de reforma da Biblioteca Pública Câmara Cascudo (orçada em R$ 1,5 milhão) voltou a andar no Ministério da Cultura após um tropeço na burocracia que durou 14 longos meses.

O trabalho foi suspenso em outubro de 2014 devido a necessidade de ajustes no projeto executivo: detalhes foram alterados e/ou acrescidos, e cada mudança precisa ser analisada, avaliada e autorizada pela Diretoria de Programas Especiais de Infraestrutura Cultural (DINC).

“Em mais de um ano recebemos a primeira diligência formal do MinC, via sistema de convênios, agora no dia 30 de dezembro. Solicitaram orçamento atualizado para as alterações propostas. O documento já foi encaminhado para a Secretaria Estadual de Infraestrutura (SIN), e assim que voltarmos do recesso próximo dia 11 de janeiro daremos prioridade ao assunto para responder ao MinC o mais breve possível”, disse Sanclair Solon, coordenador de Planejamento e Projetos da FJA.

Além de reestruturar a parte física, a parceria do Ministério da Cultura com o Governo do RN inclui atualização do acervo, compra de equipamentos de informática e novos móveis. O projeto de acessibilidade e climatização da Biblioteca Câmara Cascudo estão inseridos em outro edital, que saiu pelo RN Sustentável junto com serviços previstos para outros equipamentos culturais como o Museu Café Filho.

Sanclair aproveitou a ocasião para informar que o convênio entre Governo do Estado e Pontos de Cultura foi reaprazados. Os Pontos deveriam ter recebido a terceira parcela do convênio, no valor de R$ 60 mil, em 2013.

“Outras duas boas notícias são que a Secretaria de Políticas Culturais do MinC fará um aporte de R$ 700 mil ao RN Criativo, o que garante mais 18 meses de atividades da incubadora; e que a restauração do Casarão dos Guarapes, em Macaíba, orçada em R$ 1,1 milhão, foi aprovada pelo Ministério do Turismo (deste valor, R$ 124 mil são contrapartida do RN)”, acrescentou o coordenador de Planejamentos e Projetos da Fundação.

O Casarão dos Guarapes, construído no século 19, funcionou como entreposto comercial quando Macaíba tinha papel de destaque no escoamento da produção norte-rio-grandense. A intenção é que o lugar sirva como centro cultural, memorial e museu.

Comentário

O poeta Carlos Gurgel, que estreou no final de 2015 o projeto poético Espelho da Palavra, acredita que “existe uma compreensão maior” do que representa o ofício de escritor: “Apesar da distribuição continuar precária, a cada dia percebo maior interesse dos leitores pelo autor potiguar. Acho que ainda se precisa fazer muito, e reconhecer esse processo é básico. Valores novos apareceram e os já conhecidos continuam produzindo. Penso que a criação de um coletivo possibilitaria a compreensão maior do que o exercício sonha”.

Nenhum comentário: