Vem de Santa
Catarina o desabafo do procurador Davy Lincoln Rocha. Ele já impressiona pelo
título do texto que circula pelas redes sociais: "Tomara que Deus não
exista!". A partir de uma crítica generalizada à situação do país, o
procurador ataca o benefício extra salarial de R$ 4.300,00 que ele e milhares
de magistrados brasileiros estão para receber: "Tomara, mas tomara mesmo
que Deus não exista, porque Ele sabe que eu tenho casa própria, como de resto
têm quase todos os Procuradores e Magistrados e que, no fundo de nossas
consciências, todos nós sabemos, e muito bem, o que estamos prestes a
fazer." Leia na íntegra:
TOMARA QUE DEUS NÃO EXISTA!
"Brasil,
um país onde não apenas o Rei está nu. Todos os Poderes e Instituições estão
nus, e o pior é que todos perderam a vergonha de andarem nus. E nós, os
Procuradores da República, e eles, os Magistrados, teremos o vergonhoso
privilégio de recebermos R$ 4.300,00 reais de "auxílio moradia", num
país onde a Constituição Federal determina que o salário mínimo deva ser
suficiente para uma vida digna, incluindo alimentação, transporte, MORADIA, e
até LAZER.
A partir de
agora, no serviço público, nós, Procuradores da República, e eles, os
Magistrados, teremos a exclusividade de poder conjugar nas primeiras pessoas o
verbo MORAR. Fica combinado que, doravante, o resto da choldra do funcionalismo
não vai mais "morar". Eles irão apenas se "esconder" em algum
buraco, pois morar passou a ser privilégio de uma casta superior.
Tomara que
Deus não exista... Penso como seria complicado, depois de minha morte (e mesmo
eu sendo um ser superior, um Procurador da República, estou certo que a morte
virá para todos), ter que explicar a Deus que esse vergonhoso auxílio-moradia
era justo e moral.
Como seria
difícil tentar convencê-Lo (a Ele, Deus) que eu, DEFENSOR da Constituição e das
Leis, guardião do princípio da igualdade e baluarte da moralidade, como é que
eu, vestal do templo da Justiça, cheguei a tal ponto, a esse ponto de me
deliciar nesse deslavado jabá, chamado auxílio-moradia.
Tomara, mas
tomara mesmo que Deus não exista, porque Ele sabe que eu tenho casa própria,
como de resto têm quase todos os Procuradores e Magistrados e que, no fundo de
nossas consciências, todos nós sabemos, e muito bem, o que estamos prestes a
fazer.
Mas,
pensando bem, o Inferno não haverá de ser assim tão desagradável como dizem,
pois lá, estarei na agradável companhia de meus amigos Procuradores, Promotores
e Magistrados. Poderemos passar a eternidade debatendo intrincadas teses
jurídicas sobre igualdade, fraternidade, justiça, moralidade e quejandos. Como
dizia Nelson Rodrigues, toda nudez será castigada!"
DAVY LINCOLN ROCHA
Procurador da República
Joinville SC
Quanto mais
"importante" a posição maior a obrigação do exemplo.
(*) FONTE: Conexão
Jornalismo
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