O deputado
Federal Aníbal Gomes (PMDB/CE) já escapou de algumas acusações graves. Uma
delas de envolvimento no assassinato do então prefeito da cidade de Acaraú, no
Ceará, Joãozinho. Livre da acusação, a coisa sobrou para seus irmãos: um
deputado estadual e outro vice-prefeito - que herdaria o posto com o crime
contra Joãozinho. Como tudo no Brasil, o caso não foi à frente. Mas eis que
agora Aníbal Gomes poderá finalmente ser alcançado pela Justiça. E o motivo é
falsificação de documentos para fins eleitorais. A reportagem é do site Rede
Brasil Atual.
Por: Helena Sthephanowitz, para a
RBA
No início
deste setembro, o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) foi denunciado ao Supremo
Tribunal Federal pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por crime
de falsificação de documentos para fins eleitorais.
O motivo?
Chamou atenção doações dele para sua própria campanha por meio de depósitos em
dinheiro no valor de R$ 207,4 mil. Aníbal é investigado no âmbito da Operação
Lava Jato. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa o delatou como
intermediário dos interesses do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) junto à
estatal. A Procuradoria suspeitou de que o deputado estivesse doando em seu
próprio nome para ocultar a origem de algum doador que não pudesse aparecer.
Chamado a
depor, Aníbal disse que cerca de R$ 100 mil vinham de amigos e parentes, e que
por serem várias pequenas quantias, ele juntou tudo e declarou a doação em seu
nome. O procurador-geral o denunciou por declaração falsa à Justiça Eleitoral e
considerou o ato lesivo à fiscalização, impedindo aos órgãos de controle
verificar se os verdadeiros doadores cumpriram limites legais.
O líder do
PSDB na Câmara, deputado federal Carlos Sampaio (SP), tem a mesma peculiaridade
em sua prestação de contas eleitoral. Ele mesmo doou R$ 40 mil para sua
campanha. Mas o que chama atenção é que a doação dele para ele mesmo não saiu
de suas contas bancárias. Foi em dinheiro vivo, e sem que ele tenha declarado
possuir dinheiro em espécie em sua declaração de bens, da qual também não
consta nenhuma atividade econômica que possa receber dinheiro em espécie, como
é comum em caso de lojistas, por exemplo.
Abaixo, a doação de Carlos
Sampaio para ele mesmo, conforme registro no Tribunal Superior Eleitoral:
Sua
biografia, porém, mostra que ele sempre foi ou funcionário público - promotor
do estado de São Paulo desde 1987 - ou ocupou cargos políticos desde 1993,
cujos rendimentos sempre são pagos em conta corrente e pela rede bancária.
Sampaio
também afirma, em sua declaração de bens, ser um dos sócios da empresa empresa
Ciage (Centro de Inteligência, Análise e Gestão Educacional Ltda), aberta em
fevereiro de 2013 e com sede em Campinas (SP). Mas, na verdade, é a mulher do
tucano - a psicóloga Anna Beatriz R. F. Sampaio - que é a detentora, registrada
na Junta Comercial do Estado de São Paulo e no quadro de sócios do CNPJ da
Receita Federal, de 34% das cotas da Ciage.
De acordo
com o site da empresa, a Ciage assessora a gestão de escolas privadas e oferece
consultoria, também em educação, para órgãos públicos. A empresa teve alteração
de atividades em novembro de 2014, quando passou a incluir comércio de livros,
jornais e revistas, além de desenvolvimento e licenciamento de programas de
computador.
Pau a pau
Se Janot
quiser fazer valer sua frase "pau que dá em Chico, dá também em
Francisco", que declarou na sabatina no Senado que o reconduziu ao cargo,
precisa aplicar o "pau que dá em Aníbal Gomes, dá também em Carlos
Sampaio", e abrir investigação sobre o tucano. Afinal, há pelo menos uma
doação fortemente suspeita e indícios de falsidade ideológica na declaração de
bens relativa à Ciage.
Carlos
Sampaio ganhou notoriedade nacional quando entrou com representação - já
arquivada - que pedia a cassação da presidenta Dilma Rousseff, ainda no
primeiro mandato, por ela ter usado vestido vermelho em um pronunciamento em
rede nacional de televisão.
Caiu no
ridículo, mas encantou o então candidato tucano a presidente, Aécio Neves.
Desde então, Sampaio se tornou coordenador jurídico da campanha de Aécio em
2014 e tentou de todos os modos cassar a candidatura da presidenta. Após a
derrota do PSDB nas eleições, não desistiu. É um dos principais conspiradores
do golpe do impeachment de Dilma na Câmara.
O deputado
tucano também se esforçou ao longo dos anos para se apresentar como
"paladino da ética". Mas esta imagem anda arranhada desde a CPI do
Cachoeira, quando deu um show de hipocrisia ao defender a blindagem da
corrupção no governo goiano de Marconi Perillo (PSDB) e de companheiros de
partido enrolados naquele escândalo.
Comportamento
semelhante teve no "trensalão", escândalo das propinas no Metrô e
trens paulistas sob gestão tucana. E tem se repetido em todos os episódios que
envolvem tucanos. Recentemente, enquanto acusava o governo federal de
aparelhamento, seu pai ganhava um cargo comissionado com salário de R$
11.656,20 na prefeitura de Valinhos (SP), cidade vizinha a Campinas comandada
por um prefeito também tucano, seu aliado.
Outro grave
deslize é conspirar pelo golpe do impeachment com notórios deputados
denunciados por corrupção, enquanto ajuda a manter engavetados dezenas de
processos de cassação desses mesmos deputados, por quebra de decoro, no
Conselho de Ética da Casa.
Por fim,
gravíssimo o voto e o comando da bancada tucana para votar a favor da chamada
"PEC da Corrupção", aquela que queria manter o financiamento
empresarial de campanha, mesmo considerado inconstitucional pelo STF.
Assim, ele
se candidata, no máximo, a "paladino" da ética seletiva, aquela que
só vale para "inimigos". Para os "amigos" vale tudo.
(*) FONTE: Conexão Jornalismo
Nenhum comentário:
Postar um comentário