Por: Tácito Costa
O governo
interino extinguiu, não resistiu à pressão, e vai recriar o Ministério da
Cultura e eu não fiquei sabendo, oficialmente, qual a razão da decisão inicial.
Questões orçamentárias? Não se sustentam, visto que o ministério detém um dos
menores orçamentos entre todos. Fazer demagogia, anunciando a redução geral do
número de ministérios? Plausível. Vingar-se dos artistas que denunciaram o
golpe e aderiram ao Fora Temer? Também possível.
Acho que as
duas últimas questões, somadas, deram força ao interino para acabar com o MinC.
O plano parecia perfeito. Faltou “combinar com os russos” (Copa de 50). Ou
seja, Temer não contou com a forte reação, quase unânime, contra o fim do
ministério. Muito menos com a mobilização e consequente ocupação dos prédios do
ministério espalhados pelo país.
De Sarney a
Caetano. De Regina Duarte a Zé Celso. Até críticos ácidos do PT e de Dilma,
como Cacá Diegues e Nelson Motta, criticaram duramente o retrocesso temeniano.
Acreditem: o guru dos coxinhas Reinaldo Azevedo se posicionou contrário ao fechamento.
Quando falei em “quase unânime” no parágrafo anterior, não me referia, claro, a
Bobão, digo Lobão, que se mostrou favorável, mas esse não conta, é um imbecil
(Tem um vídeo dele na Folha de hoje – 23.05 – falando sobre a questão).
Li o que
pude sobre a polêmica. E o único texto que defendeu a extinção ou considerou
indiferente a existência do ministério foi do escritor Teixeira Coelho, em
entrevista a BBC Brasil (aqui). A gente pode discordar, como eu, de alguns
pontos da entrevista. Mas, nota-se que ela traz elementos para um debate de
nível.
Mas, o que
mais me impressionou na polêmica acerca da decisão do governo de notáveis foi o
modo como parte da sociedade vê os seus artistas. Como vagabundos,
oportunistas, maconheiros, parasitas de verbas públicas. Sem o menor respeito.
Sem a menor consideração. Coisas de um país doente. Não tem outra explicação.
A campanha
difamatória contra os artistas incomodou-me demais. Tá certo que partiu da
legião de imbecis e dos fanáticos políticos que assolam as redes sociais.
Então, não deveria me surpreender. Mas mesmo assim causou-me desalento. No
primeiro caso, pessoas que não sabem o que dizem (os tais inocentes úteis),
reproduzem o que ouviram falar, geralmente mentiras, e possuem níveis culturais
no nível das novelas do SBT. No segundo caso, dos fanáticos anti-PT, a extinção
poderia até ser do ministério da saúde que eles apoiariam. Alguns jornalistas
também demonstraram, mais uma vez, como são pobres culturalmente e por
extensão, de espírito. Que vergonha alheia. Para esse pessoal, tudo vale se for
contra a gestão PT/Dilma. Para piorar, os artistas se posicionaram contra o
golpe.
Esse
contexto deprimente me levou a pensar na inutilidade do jornalismo cultural. Na
falta de serventia de um site sobre jornalismo cultural. Na perda de tempo em
manter o Substantivo Plural. Se o conceito e o entendimento que as pessoas tem
de cultura são esses que vimos nas redes sociais nos últimos dias não faz
sentido manter um espaço voltado para divulgar, fomentar e debater cultura.
Lamento informar, mas falhamos clamorosamente nesses nove anos de Substantivo
Plural. Os bárbaros venceram. Embora não tenham levado, desta vez. O MinC é
nosso.
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