quinta-feira, 26 de maio de 2016

SÓ UMA SOCIEDADE DOENTE TRATA MAL A CULTURA E SEUS ARTISTAS


Por: Tácito Costa

O governo interino extinguiu, não resistiu à pressão, e vai recriar o Ministério da Cultura e eu não fiquei sabendo, oficialmente, qual a razão da decisão inicial. Questões orçamentárias? Não se sustentam, visto que o ministério detém um dos menores orçamentos entre todos. Fazer demagogia, anunciando a redução geral do número de ministérios? Plausível. Vingar-se dos artistas que denunciaram o golpe e aderiram ao Fora Temer? Também possível.

Acho que as duas últimas questões, somadas, deram força ao interino para acabar com o MinC. O plano parecia perfeito. Faltou “combinar com os russos” (Copa de 50). Ou seja, Temer não contou com a forte reação, quase unânime, contra o fim do ministério. Muito menos com a mobilização e consequente ocupação dos prédios do ministério espalhados pelo país.

De Sarney a Caetano. De Regina Duarte a Zé Celso. Até críticos ácidos do PT e de Dilma, como Cacá Diegues e Nelson Motta, criticaram duramente o retrocesso temeniano. Acreditem: o guru dos coxinhas Reinaldo Azevedo se posicionou contrário ao fechamento. Quando falei em “quase unânime” no parágrafo anterior, não me referia, claro, a Bobão, digo Lobão, que se mostrou favorável, mas esse não conta, é um imbecil (Tem um vídeo dele na Folha de hoje – 23.05 – falando sobre a questão).

Li o que pude sobre a polêmica. E o único texto que defendeu a extinção ou considerou indiferente a existência do ministério foi do escritor Teixeira Coelho, em entrevista a BBC Brasil (aqui). A gente pode discordar, como eu, de alguns pontos da entrevista. Mas, nota-se que ela traz elementos para um debate de nível.

Mas, o que mais me impressionou na polêmica acerca da decisão do governo de notáveis foi o modo como parte da sociedade vê os seus artistas. Como vagabundos, oportunistas, maconheiros, parasitas de verbas públicas. Sem o menor respeito. Sem a menor consideração. Coisas de um país doente. Não tem outra explicação.

A campanha difamatória contra os artistas incomodou-me demais. Tá certo que partiu da legião de imbecis e dos fanáticos políticos que assolam as redes sociais. Então, não deveria me surpreender. Mas mesmo assim causou-me desalento. No primeiro caso, pessoas que não sabem o que dizem (os tais inocentes úteis), reproduzem o que ouviram falar, geralmente mentiras, e possuem níveis culturais no nível das novelas do SBT. No segundo caso, dos fanáticos anti-PT, a extinção poderia até ser do ministério da saúde que eles apoiariam. Alguns jornalistas também demonstraram, mais uma vez, como são pobres culturalmente e por extensão, de espírito. Que vergonha alheia. Para esse pessoal, tudo vale se for contra a gestão PT/Dilma. Para piorar, os artistas se posicionaram contra o golpe.


Esse contexto deprimente me levou a pensar na inutilidade do jornalismo cultural. Na falta de serventia de um site sobre jornalismo cultural. Na perda de tempo em manter o Substantivo Plural. Se o conceito e o entendimento que as pessoas tem de cultura são esses que vimos nas redes sociais nos últimos dias não faz sentido manter um espaço voltado para divulgar, fomentar e debater cultura. Lamento informar, mas falhamos clamorosamente nesses nove anos de Substantivo Plural. Os bárbaros venceram. Embora não tenham levado, desta vez. O MinC é nosso.

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