PARABÉNS A
ESTA JOVEM SENHORA, QUE SE EMANCIPOU A 54 ANOS E A CADA DIA FICA MAIS LINDA.
MINHA QUERIDA E TÃO AMADA GUAMARÉ... TE AMO GUAMARÉ E JAMAIS TE ABANDONAREI,
POIS AQUI ESTÁ A MINHA HISTÓRIA, AQUI ESTÃO AS MINHAS RAÍZES...
MIRAGEM
Na hora do
ângelus.
O sol
esconde-se no horizonte.
Maré de
vazante.
Sento-me na
areia da praia salpicada por conchas de búzios, fico a observar o Rio Aratuá
seguindo lentamente com sua majestosa correnteza, entre o cais e o mangue.
Rio bonito.
Rio Aratuá vai em busca do grande encontro com as belas ondas do mar, não sem
antes beijar as areias da Praia do Presídio estendida ao seu lado, demonstrando
toda a sua beleza e sensualidade.
Ao longe
ouço a Ave Maria de Gounod. Sons melodiosos que vem de algum rádio, de alguém
que acredita nos seres celestiais.
Escurece e o
céu é ornado pelo dourado das estrelas, o som das marolas batendo nos costados
das canoas e dos barcos de pesca que estão ancorados no rio. Torna-se um
cenário melancólico, é como se Manet tivesse pego os seus pincéis e tivesse
pintado tão belo quadro.
De repente
transporto-me a um passado não um tanto remoto; época em que meus avós e meus
tios desfrutavam da vida de uma Guamaré, pacata vila de pescadores.
Época em que
o progresso não tinha interferido na vida dos nativos. Todos se conheciam e
participavam das festas e folguedos existentes na cidade e organizados pelos
próprios moradores.
É como se eu
estivesse vendo Guamaré ainda virgem, intocada, sem o cais de pedra da
Petrobrás e que tinha a beleza natural dos manguezais preservada, rios sem
poluição, as belas dunas da Penha onde íamos pegar água de beber em suas
cacimbas de águas cristalinas.
Ao invés de
lanchas e rebocadores barulhentos, lançando fuligem e fumaça de óleo diesel no
céu de minha cidade; tínhamos os botes da aguada, os botes de pescaria
carregados de Voadores e Dourados, singrando silenciosamente o rio até o
atracadouro em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição.
Ah! Guamaré,
como mudastes.
Perdeu o
charme e o romantismo de cidade pequena, com o bate papo na calçada do mercado
e deu lugar a uma mistura de sotaques de diversas regiões do Brasil e até mesmo
de outros países. Ninguém se cumprimenta mais, os costumes e as tradições do
seu povo feliz e hospitaleiro estão se perdendo no tempo e dando lugar a novos
costumes e novos conceitos de vida trazidos pelos “forasteiros” que invadem a
cidade em busca de uma melhor condição de vida.
Guamaré, o
eldorado petrolífero.
Guamaré,
antiga ilha dos gatos.
Guamaré que
já se chamou Aguamaré, mas que apesar de tantas mudanças, eu continuo te
amando, pelas belezas dos teus rios e manguezais e pela forma simples dos teus
filhos conciliarem toda essa transformação tão abrupta.
De repente,
um idiota estaciona em frente ao Bar do Cobal, abre a mala do carro e coloca um
CD de axé-music aumentando o volume ao máximo, me tirando dos meus devaneios e,
a minha Guamaré tão querida que eu gostaria que ainda existisse, sumiu, desapareceu
como miragem, trazendo-me a realidade.
Levanto-me e
caminho em direção ao calçadão.
Caminho
cabisbaixo sobre a negra serpente asfáltica em que se transformaram as ruas de
Guamaré.
Autor:
Gonzaga Filho
Livro:
Guamaré, Retalhos Poéticos
Editora:
PerSe
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