Vivemos uma
época dominada pelos meios de comunicação. Mas isso não é nenhuma novidade. A
Televisão, apesar da sua importante força, hoje perde hegemonia para os meios
digitais, em larga escala. Passamos assim, a quem de fato busca respostas, a
uma época de reflexões no campo da comunicação e seus procedimentos de
concepção e produção, carregadas de constantes desafios da tecnologia e do
mercado. Com a produção da imagem, não poderia ser diferente. Artistas visuais
de todos os lugares se reinventam em seus processos criativos e na linguagem da
fotografia mais especificamente, vemos uma mudança não só de comportamento, mas
de atitude.
Hoje não é
apenas abundante a produção de imagens. Isso é fato. A tecnologia que nos
fascina nestes tempos pós contemporâneos nos remete a também, momentos
nostálgicos. Voltamos também a poética dos procedimentos analógicos, sem perder
a ternura do tempo que se alarga para a visão final do resultado. Consideramos
que nesta transição tecnológica que ainda está em curso, perdas importantes
aconteceram e novas possibilidades surgem, todos os dias, a todo o momento.
Isso é processo criativo, seja lá quem seja o produtor.
Não é apenas
o fato da produção intensa de imagens que nos bombardeiam. Há questões de
margem que ainda merecem nossa atenção. Não é mais um mero aprimoramento
técnico que nos contribui para uma valoração do que seja bom ou ruim, mas a sua
gestão propriamente dita. A credibilidade da informação se dá, não mais apenas
da forma como é produzida, mas também, do grau de confiança que são dadas às
suas fontes, seja lá qual for modo como foram produzidas. O purismo tem perdido
espaço e a liberdade de ousar se põe em evidência. Porque não utilizar um
smartphone para produzir imagens de alto nível?
A autoridade
hoje é o fotografo como persona, não mais apenas a fotografia. Não vemos um
Sebastião Salgado mais apenas pelo conteúdo do que ele fotografa, mas sim,
porque foi ele quem o fez. Um desconhecido teria feito tão bem quanto, as
imagens de seu último livro, o Gênesis. Mas foi ele, foi megalomaníaco, e foi
ele. Ponto final. Não se fala mais neste assunto. Por outro aspecto, vejo ainda
que, em colaboração, o editor fotográfico ou papel do curador, possui tanto
poder autoral quanto o verdadeiro produtor da imagem, mas isso é questão para outra
discussão.
A palavra
ainda é tão importante como a imagem. São códigos que não se dissociam.
Encontramos imagens que nos agradam através de palavras utilizadas em
mecanismos de buscas (…dá um google aí?!..). E por conta da tal palavra, também
fazemos com que nossas imagens sejam melhores visualizadas. Que levante a mão
quem não faz uso das hashtags em suas imagens no instagram ou em qualquer outra
rede social! Meios de comunicação, mercado, profissionais da imagem, artistas
visuais hoje se utilizam de não apenas da associação destas ferramentas
imagem-palavra para enriquecer seus produtos e discursos. É como se a produção
não mais fosse dissociada. Ainda há imagens que não são necessárias um discurso
explicativo sobre aquilo que eu quero dizer a produzir tal obra, mas isso, no
nosso mundo pós-fotográfico como diria Juan Fontcuberta, estudioso catalão,
está cada vez mais raro.
Mas há no
mundo vivenciado nesta era pós fotográfica uma perda substancial dos pilares
fundamentais da fotografia: a verdade e a memória. Isto se deve aos efeitos da
cultura digital e das mudanças de paradigma que acarreta. A fotografia, não se
isola, possui o seu papel e ainda se une a outros aspectos da comunicação
social, tais como o documento que cede espaço às marcas biográficas. Muitas
fotos já não são produzidas como testemunho de algo realizado ou para apenas
descrever uma situação e sim, para inscrever a presença do sujeito. O “isto
aconteceu” muda para “EU estava ali”. Basta observar mídias colaborativas que
hoje possuem espaços cada vez mais amplos, como o Mídia Ninja, que recebe
conteúdos de colaboradores que atestam não só a presença do “estive aqui”, mas
narra o modo como aconteceu de forma praticamente simultânea ao acontecimento.
Outra
mudança significativa está na durabilidade e na vontade de se estabelecerem
mecanismos de memória. Hoje as fotos não são feitas mais apenas para guardar
momentos, mas para os fazerem circularem, para serem enviadas, para que outras
pessoas possam vê-las, curti-las, compartilharem. Hoje o que dá sentido à
imagem não é mais apenas o seu conteúdo, mas sim, sua capacidade de circulação.
Assim, o
metabolismo natural das imagens acompanha a evolução dos tempos e os elementos
que modificam os tradicionais suportes da fotografia tradicional. Reinventar-se
é verbo conjugado no presente. É uma realidade que a constitui. A reflexão, não
tem limites. A experimentação, também não.
As imagens
deste artigo são de José Ramon Bas, fotógrafo espanhol, da série “Cuba en el
ojo”.
(*) FONTE: Substantivo
Plural
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