Papai Noel
Foi golpe ou
não foi golpe? Uma questão semântica. Teve cara de golpe, cheiro de golpe,
penteado de golpe, mas há controvérsias
Acabou não
sendo nem uma questão política nem uma questão jurídica, mas uma questão
semântica. Afinal, o que o governo Dilma fez foi crime ou não foi crime? Na
interpretação da acusação, foi crime imputável (horrível palavra) evidente.
Para a defesa, não foi. Os argumentos dos dois lados eram incisivos e
coerentes.
No fim, a
escolha foi entre dois tipos de histrionismos, já que era tudo teatro mesmo -
e, no fim, não fez a menor diferença, pois os 61 senadores que imputaram
(desculpe) a Dilma e os poucos que estavam a seu favor já tinham a cabeça
feita. Foi golpe ou não foi golpe? Outra questão semântica. Teve cara de golpe,
cheiro de golpe, penteado de golpe - mas há controvérsias.
Me preocupo
muito com o Leigo, essa simpática figura de retórica que nunca sabe nada de
nada. O Leigo deve estar se perguntando como é que advogados e economistas que
se criaram no mesmo lugar, foram amamentados da mesma maneira e estudaram nas
mesmas escolas (fora alguns que passaram por Harvard) chegam a conclusões tão
diferentes, todas baseadas nos mesmos números, nos mesmos fatos e na mesma
Constituição?
Como é -
deve estar pensando o Leigo - que a Dilma é imputada por práticas não ortodoxas
e proibidas, mas que não impediram outros presidentes de praticá-las no
passado, impunemente? Por que o Tribunal de Contas da União acordou do seu sono
profundo para examinar as contas da Dilma, depois de ignorar as contas de todos
os governos do Brasil desde as do Getúlio Vargas? Inclusive as do Juscelino,
pai do reinado das empreiteiras? O pobre do Leigo cada vez entende menos.
E está aí o
Temer. Jamais, em toda a história do país, se viu uma carreira política tão
fulminante. Tudo começou com a sua carta a Dilma queixando-se de ser uma figura
decorativa no governo, de não ser convidado para nada e, quando era convidado,
ter que entrar pela porta de serviço.
Todos nós
que escrevíamos cartas para o Papai Noel sabíamos, no fundo, que ele não nos
traria a bicicleta ou o Forte Apache pedidos. O Temer deve ter tido a mesma
sensação de estar pedindo o impossível, um pouco de importância e de atenção.
Nunca poderia imaginar que ganharia, de presente, um país inteiro.
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